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... não sei se o que escrevo aqui é certo ou errado, se é bom ou ruim, se as pessoas gostam ou não!

Apenas tenho a certeza de que gosto do que escrevo aqui!

Minha opinião é essa! Obrigado a todos leitores que acompanham meu blog! :D


domingo, 27 de fevereiro de 2011

HOJE!

Quando se pensa seriamente na vida, percebemos, não necessariamente através de profundos raciocínios, de que vale a pena aproveitar o hoje da nossa existência fazendo o bem. O que acontecerá amanhã? Ninguém pode me assegurar uma resposta.
O passado já não nos pertence. Aquilo que fizemos de bem, ficou para trás, ainda que perdure o mérito; aquilo que tenhamos feito mal, também ficou para trás e também perdura o demérito da situação concreta. Não obstante, podemos aproveitar a experiência de vida alcançada, seja com ocasião de um bem realizado, seja com ocasião de um mal executado. Existe um ditado que diz que “errar é humano”, há uma segunda versão que diz que “errar uma vez é humano, errar duas vezes é burrice”. É possível unir os dois num só: “errar é algo muito humano, não importa quantas vezes; burrice é não querer sair do erro”. São Josemaría Escrivá, ao começar um novo ano, em vez de dizer o famoso ditado “ano novo, vida nova”, como bom conhecedor da natureza humana que era, fazia uma pequena alteração no ditado popular: “ano novo, luta nova”. O que é inteligente e bonito é querer sair do erro! A permanência do frescor da luta é uma maravilha da graça. Para quê? Para amar mais a Deus, para ser melhores, para servir mais. Esse é o nosso caminho… Durante toda a vida! E nem importa tanto se temos tantas ou quantas vitórias, o mais importante é continuar lutando.
Serei melhor no futuro? Deixarei esse ou aquele vício? Conseguirei essa ou aquela virtude? Meditarei melhor a Palavra de Deus? Conseguirei estar mais disponível para os meus irmãos? Suportarei melhor determinada pessoa? Serei mais rico ou mais pobre? Conseguirei levar a cabo aquele projeto evangelizador? … As perguntas poderiam multiplicar-se. O futuro, no entanto, está nas mãos de Deus.
O importante é continuar lutando. Chega um momento na vida interior em que essa verdade faz-se cada vez mais patente. No começo do nosso encontro com Deus, as coisas pareciam mais fáceis: alegrias e consolações interiores, força de vontade para extirpar os maus hábitos, a convicção diáfana de que acertamos o caminho, o desejo de servir a todos, a posta em prática de uma tarefa evangelizadora que alcançava o maior número possível de pessoas. Com o passar dos anos, quiçá nós percebemos que os frutos foram escassos e, talvez, nesse momento, pôde ter vindo o desânimo: tantos anos lutando contra um determinado defeito, poucas pessoas se aproximaram de Deus, ainda existe o egoísmo e os defeitos dos membros da Igreja. O que o diabo quer é que desanimemos!
O nosso desânimo é vitória para o demônio. E nós não podemos conceder-lhe essa vitória. O desanimo poderia ser o começo de uma enfermidade que, de mal a pior, vai esfriando a alma a tal ponto de colocá-la numa situação de desespero que poderia levar ao abandono da própria salvação eterna.
É muito importante que tenhamos presente essas palavras do Senhor que nos estimulam a seguir adiante: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado” (Mt 6,33-34). O que devemos buscar em primeiro lugar? O Reino de Deus. Esse reino inclui a glória de Deus e todo o bem que uma pessoa pode desejar para si e para os demais. Buscar o Reino também significa não preocupar-se com o dia de amanhã. Como? E a previsão das coisas? O Senhor diz que não nos preocupemos, mas não proíbe ocupar-nos. Claro que se pode ter certa previsão das coisas e atuar em consequência; não podemos, no entanto, ser consumidos pelas dificuldades da vida. Nem a nossa perfeição cristã deve preocupar-nos: vamos ocupar-nos em buscar a santidade, mas não nos preocuparemos, não vamos estar alienados com o tema. Não aconteça que ao buscar os bens de Deus nos esqueçamos do autor desses bens.
A vida cristã implica normalidade. Trata-se de que vivamos o hoje do nosso serviço a Deus, o hoje da nossa luta e o hoje do nosso serviço aos demais. O amanhã pertence a Deus que, desde a sua eternidade, não contempla passado e futuro, mas os une na sua visão clara do hoje eterno. Deus quis que fôssemos livres para amar, e para amar hoje. O que eu vou fazer no dia de hoje para viver melhor a caridade, para estar mais serviçal e generoso, para dar glória a Deus, para buscar a santidade, para dar alegria aos outros e para levá-los ao encontro com Deus? É isso o que importa! Hoje!

Pe. Françoá Costa

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Essa coisa louca que é viver...




Havia pessoas em que ela confiava. Desabafava todo tipo de coisa. Essas mesmas, riam com ela, partilhava o melhor de sua vida, arrancava dela o seu melhor sorriso…
Sabiam cada vírgula da sua história. Fazia bem à ela. Aquelas brincadeiras seriam guardadas na memória. As pessoas ela guardaria no coração. Até mesmo as que à queria mal, pois ela aprendeu assim.
Enquanto ouvia a chuva cair, sentada na sua cama, ela se lembrava de todos os momentos, de cada sorriso, de cada rostinho, de cada palavra. E sentia saudade. Muita saudade. Chorava às vezes. Mas sorria ao lembrar de tudo que foi bom.
Nada iria voltar. Disso ela tinha certeza! Mas o futuro poderia ser melhor! Só dependia dela. 
Essa tal menina sou eu. Tentando ser feliz…
‘Já não sei definir as coisas, já não sei explicar mais nada…’ ♪♫*
Entender? Já desisti!
Eu, esse ser estranho e confuso, jogando esse jogo chamado vida, tão pequena em meio a tudo… 
Perseguida por sentimentos desvairados, infectada pelo vírus da indecisão, tentando combater todo o resto que tenta me atingir com suas armas poderosas. Até lembra uma guerra, mas é a vida…

Ah essa coisa louca que é viver…


*♪♫ Roberta Campos - Estou em Paz (Com você) 

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O que significa o TAU?





Há certos sinais que revelam uma escolha de vida. O TAU, um dos mais famosos símbolos franciscanos, hoje está presente no peito das pessoas num cordão, num broche, enfeitando paredes numa escultura expressiva de madeira, num pôster ou pintura. Que escolha de vida revela o TAU? Ele é um símbolo antigo, misterioso e vital que recorda tempo e eternidade. A grande busca do humano querendo tocar sempre o divino e este vindo expressar-se na condição humana.

Horizontalidade e verticalidade. As duas linhas: Céu e Terra! Temos o símbolo do TAU riscado nas cavernas do humano primitivo. Nos objetos do Faraó Achenaton no antigo Egito e na arte da civilização Maia. Francisco de Assis o atualizou e imortalizou. Não criou o TAU, mas o herdou como um símbolo seu de busca do Divino e Salvação Universal.

TAU, SINAL BÍBLICO

Existe somente um texto bíblico que menciona explicitamente o TAU, última letra do alfabeto hebraico, Ezequiel 9, 1-7: "Passa pela cidade, por Jerusalém, e marca com um TAU a fronte dos homens que gemem e choram por todas as práticas abomináveis que se cometem". O TAU é a mais antiga grafia em forma de cruz. Na Bíblia é usado como ato de assinalar. Marcar com um sinal é muito familiar na Bíblia. Assinalar significa lacrar, fechar dentro de um segredo, uma ação. É confirmar um testemunho e comprometer aquele que possui o segredo. O TAU é selo de Deus; significa estar sob o domínio do Senhor, é a garantia de ser reconhecido por Ele e ter a sua proteção. É segurança e redenção, voltar-se para o Divino, sopro criador animando nossa vida como aspiração e inspiração.

O TAU NA IDADE MÉDIA

Vimos o significado salvífico que a letra hebraica do TAU recebe na Bíblia. Mas o TAU tem também um significado extrabíblico, bastante divulgado na Idade Média: perfeição, meta, finalidade última, santo propósito, vitória, ponto de equilíbrio entre forças contrárias. A sua linha vertical significa o superior, o espiritual, o absoluto, o celeste. A sua linha horizontal lembra a expansão da terra, o material, a carne. O TAU lembra a imagem do sustentáculo da serpente bíblica: clavada numa estaca como sinal da vitória sobre a morte. Uma vitória mística, isto é, nascer para uma vida superior perfeita e acabada. É cruz vitoriosa, perfeição, salvação, exorcismo. Um poder sobre as forças hostis, um talismã de fé, um amuleto de esperança usado por gente devota sensível.

O TAU DO PENITENTE

Francisco de Assis viveu em um ambiente no qual o TAU estava carregado de uma grande riqueza simbólica e tradicional. Assumiu para si a marca do TAU como sinal de sua conversão e da dura batalha que travou para vencer-se. Não era tão fácil para o jovem renunciar seus sonhos de cavalaria para chegar ao despojamento do Crucificado que o fascinou. Escolhe ser um cavaleiro penitente: eliminar os excessos, os vícios e viver a transparência simples das virtudes. Na sua luta interior chegou a uma vitória interior. 
Um homem que viveu a solidão e o desafio da comunhão fraterna; que viveu o silêncio e a canção universal das criaturas; que experimentou incompreensão e sucesso, que vestiu o hábito da penitência, que atraiu vidas, encontrou um modo de marcar as paredes de Santa Maria Madalena em Fontecolombo, de assinar cartas com este sinal. De lembrar a todos que o Senhor nos possui e nos salva sob o signo do TAU.

O TAU FRANCISCANO

O TAU franciscano atravessa oito séculos sendo usado e apreciado. É a materialização de uma intuição. Francisco de Assis é um humano que se move bem no universo dos símbolos. O que é o TAU franciscano? É Verdade, Palavra, Luz, Poder e Força da mente direcionada para um grande bem. Significa lutar e discernir o verdadeiro e o falso. É curar e vivificar. É eliminar o erro, a mentira e todo o elemento discordante que nega a paz. É unidade e reconciliaçã
o. Francisco de Assis está penetrado e iluminado, apaixonado e informado pela Palavra de Deus, a Palavra da Verdade. É um batalhador incansável da Paz, o Profeta da Harmonia e Simplicidade. É a encarnação do discernimento: pobre no material, vencedor no espiritual. Marcou-se com este sinal da luz, vida e sabedoria.

O TAU COMO IDEAL

No mês de novembro de 1215, o Papa Inocêncio III presidia um Concílio na Igreja Constantiniana de Roma. Lá estavam presentes 1.200 prelados, 412 bipos, 800 abades e priores. Entre os participantes estavam São Domingos e São Francisco. Na sessão inaugural do Concílio, no dia 11 de novembro, o Papa falou com energia, apresentou um projeto de reforma para uma Igreja ferida pela heresia, pelo clero imerso no luxo e no poder temporal. Então, o Papa Inocêncio III recordou e lançou novamente o signo do TAU de Ezequiel 9, 1-7. Queria honrar novamente a cristandade com um projeto eclesial de motivação e superação. Era preciso uma reforma de costumes. Uma vida vivida numa dimensão missionária mais vigorosa sob o dinamismo de uma contínua conversão pessoal. São Francisco saiu do Concílio disposto a aceitar a convocação papal e andou marcando os irmãos com o TAU, vibrante de cuidado, ternura e misericórdia aprendida de seu Senhor.

O TAU NAS FONTES FRANCISCANAS

Os biógrafos franciscanos nos dão testemunhos da importância que São Francisco dava ao TAU: "O Santo venerava com grande afeto este sinal", "O sinal do TAU era preferido sobre qualquer outro sinal", "O recomendava, freqüentemente, em suas palavras e o traçava com as próprias mãos no rodapé das breves cartas que escrevia, como se todo o seu cuidado fosse gravar o sinal do TAU, segundo o dito profético, sobre as fontes dos homens que gemem e lutam, convertidamente a Jesus", "O traçava no início de todas as suas ações", "Com ele selava as cartas e marcava as paredes das pequenas celas" (cf. LM 4,9; 2,9; 3Cel 3). Assim Francisco vestia-se da túnica e do TAU na total investidura de um ideal que abriu muitos caminhos.

TAU, SINAL DA CRUZ VITORIOSA

Cruz não é morte nem finitude, mas é força transformante; é radicalidade de um Amor capaz de tudo, até de morrer pelo que se ama. O TAU, conhecido como a Cruz Franciscana, lembra para nós esta deslumbrante plenitude da Beleza divina: amor e paz. O Deus da Cruz é um Deus vivo, que se entrega seguro e serenamente à mais bela oferenda de Amor. Para São Francisco, o TAU lembra a missão do Senhor: reconciliadora e configuradora, sinal de salvação e de imortalidade; o TAU é uma fonte da mística franciscana da cruz: quem mais ama, mais sofre, porque muito ama, mais salva. Um poeta dos primeiros tempos do franciscanismo conta no "Sacrum Comercium", a entrega do sinal do TAU à Dama Pobreza pelo Senhor Ressuscitado, que o chama de "selo do reino dos céus". À Dama Pobreza clamam os menores: "Eia, pois, Senhora, tem compaixão de nós e marca-nos com o sinal da tua graça!" (SC 21,22).

O TAU E A BÊNÇÃO

Francisco se apropriou da bênção deuteronômica, transcreveu-a com o próprio punho e deu a Frei Leão: "Que o Senhor te abençoe e te guarde. Que o Senhor mostre a tua face e se compadeça de ti. Que o Senhor volva o teu rosto para ti e te dê a paz. Irmão Leão; o Senhor te abençoe!" Sob o texto da bênção, o próprio Frei Leão fez a seguinte anotação: "São Francisco escreveu esta bênção para mim, Irmão Leão, com seu próprio punho e letra, e do mesmo modo fez a letra TAU como base". Assim, Francisco, num profundo momento de comunicação divina, com delicadeza paternal e maternal, abençoa seu filho, irmão, amigo e confidente. Abençoar é marcar com a presença, é transmitir energias que vêm da profundidade da vida. O Senhor te abençoe!

O TAU E A CURA DOS ENFERMOS

No relato de alguns milagres, conta-se que Francisco fazia o sinal da cruz sobre a parte enferma dos doentes. Após ter recebido os estigmas no Monte Alverne, Francisco traz em seu corpo as marcas do Senhor Crucificado e Ressuscitado. Marcado pelo Senhor, imprime a marca do Senhor que salva em tudo o que faz. Conta-nos um trecho das Fontes Franciscanas que um enfermo padecia de fortes dores; invoca Francisco e o santo lhe aparece e diz que veio para responder ao seu chamado, que traz o remédio para curá-lo. Em seguida, toca-lhe no lugar da dor com um pequeno bastão arrematado com o sinal do TAU, que traz consigo. O enfermo ficou curado e permaneceu em sua pele, no lugar da dor, o sinal do TAU (cf. 3Cel159). O Senhor identifica-se com o sofrimento de seu povo. Toma a paixão do humano e do mundo sobre si. Afasta a dor e deixa o sinal de Amor.

A COR DO TAU

O TAU, freqüentemente, é reproduzido em madeira, mas quando, pintado, sempre vem com a cor vermelha. O Mestre Nicolau Verdun, num quadro do século XII, representa o Anjo Exterminador que passa enquanto um israelita marca sobre a porta de sua casa um TAU com o Sangue do Cordeiro Pascal que se derrama num cálice. O Vermelho representa o sangue do Cordeiro que se imola para salvar. Sangue do Salvador, cálice da vida! Em Fontecolombo, Francisco deixou o TAU grafado em vermelho. O TAU pintado na casula de Frei Leão no mural de Greccio também é vermelho. O pergaminho escrito para Frei Leão no Monte Alverne, marca em vermelho o Tau que assina a bênção. O Vermelho é símbolo da vida que transcende, porque se imola pelos outros. Caminho de configuração com Jesus Crucificado para nascer na manhã da Ressurreição.

O TAU NA LINGUAGEM

O TAU é a última letra do alfabeto judaico e a décima nona letra do alfabeto grego. Não está aí por acaso; um código de linguagem reflete a vivência das palavras. O mundo judaico e, conseqüentemente, a linguagem bíblica mostram a busca do transcendente. É preciso colocar o Deus da Vida como centro da história. É a nossa verticalidade, isto é, o nosso voltar-se para o Alto. O mundo grego nos ensinou a pensar e perguntar pelo sentido da vida, do humano e das coisas. Descobrir o significado de tudo é pisar melhor o chão, saber enraizar-se. É a nossa horizontalidade. A Teologia e a Filosofia são servas da fé e do pensamento. Quem sabe onde está parte para vôos mais altos. É como o galho de pessegueiro, cortado em forma de tau é usado para buscar veios d'água. Ele vibra quando a fonte aparece cheia de energia. Coloquemos o tau na fonte de nossas palavras!

O TAU, O CORDÃO E OS TRÊS NÓS

Em geral, o Tau pendurado no pescoço por um cordão com três nós. Esse cordão significa o elo que une a forma de nossa vida. O fio condutor do Evangelho. A síntese da Boa Nova são os três conselhos evangélicos=obediência, pobreza, pureza de coração. Obediência significa acolhida para escutar o valor maior. Quem abre os sentidos para perceber o maior e o melhor não tem medo de obedecer e mostra lealdade a um grande projeto. Pobreza não é categoria econômica de quem não tem, mas é valor de quem sabe colocar tudo em comum. Ser pobre, no sentido bíblico-franciscano, é a coragem da partilha. Ser puro de coração é ser transparente, casto, verdadeiro. É revelar o melhor de si. Os três nós significam que o obediente é fiel a seus princípios; o pobre vive na gratuidade da convivência; o casto cuida da beleza do seu coração e de seus afetos. Tudo isto está no Tau da existência!

USAR O TAU É LEMBRAR O SENHOR

Muita gente usa o Tau. Não é um amuleto, mas um sacramental que nos recorda um caminho de salvação que vai sendo feito ao seguir, progressivamente, o Evangelho. Usar o TAU é colocar a vida no dinamismo da conversão: Cada dia devo me abandonar na Graça do Senhor, ser um reconciliado com toda a criatura, saudar a todos com a Paz e o Bem. Usar o TAU é configurar-se com aquele que um dia ilumina as trevas do nosso coração para levar-nos à caridade perfeita. Usar o TAU é transformar a vida pela Simplicidade, pela Luz e pelo Amor. É exigência de missão e serviço aos outros, porque o próprio Senhor se fez servo até a morte e morte de Cruz.

Por Frei Vitório Mazzuco, OFM


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A menina do guarda-chuva vermelho [parte 3 - Final]



Pierre Smith. Havia chegado a poucos dias na cidade e ainda não tinha visto a tal menina. Não seja por isso. Ela está vindo na sua direção nesse momento.
Ele, ansioso para tentar desvendar todos os mistérios existentes nos olhos daquela menina. Ela, com um sorriso malicioso estampado no rosto angelical. Todos que estavam por ali assistiam a tal cena amedrontados.
Ele foi se aproximando dela e trocou algumas palavras. Ela ouviu tudo atentamente, mas o guarda-chuva vermelho continuava ali, do seu lado e aberto.
A cidade esperava o noticiário do dia seguinte com notícias trágicas, mas não foi assim.
Lá estava ele, o corajoso Pierre Smith, mais vivo que nunca.
Desde então, passou a se encontrar com a menina no Parque Central da cidade. Ficavam hora e horas conversando e isso deixava a vizinhança curiosa. 'O que esse tal Pierre tem na cabeça? Não tem medo de morrer? Como ele conseguiu se manter vivo depois de se aproximar dela?' Eram algumas das perguntas murmuradas pelos cantos.
Mas ele não iria sair dessa ileso. Ela já estava preparando o golpe fatal que daria nele...
Passados alguns dias, numa certa noite fria e estrelada, Pierre foi brutalmente assassinado. Havia partes de seu corpo por todos os lados na varanda de sua casa. As pessoas logo acusaram a menina do guarda-chuva vermelho. E sentiam medo.
Autoridades procuravam a menina por cada lugar da cidade, mas não a encontraram.
Então se espalhou a notícia de que ela estaria no local do assassinato, na casa de Pierre. 
Enquanto a perícia examinava o local, encontraram um bilhete com as seguintes palavras:

" Ele não entendia. Eu não aceitava. Não suportaria por muito tempo. Ou eu, ou ele. Ou nós. Acho que foi melhor assim. Foi o único em quem confiei. Tive que matá-lo!
Ele sabia muita coisa sobre mim. Só não foi como eu imaginei que seria. A qualquer momento ele iria me entregar. Agora ninguém mais poderá saber de nada. Nunca saberão o porque disso tudo. Nunca mais..."


E no chão do quarto de Pierre estava o corpo dela. Ela se matara após ter matado ele. E para o espanto de todos, havia o tal desenho do guarda-chuva vermelho na nuca de Pierre. Mas dessa vez, fechado.
Era o fim.
E ninguém conseguirá desvendar esse mistério.
O guarda-chuva vermelho se fechou. Para sempre.

The end

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Manual de sobrevivência do CALOURO


E NO INÍCIO, O COMEÇO: 
Entrar para universidade é sempre um marco na vida de qualquer indivíduo, principalmente por conta de todo o processo que isso envolve. E é sempre assim, lá está ele, o pobre adolescente, perdido no mundo, recém saído do 2º grau. Quando está quase acreditando que se livrou de toda essa bobagem de escola e estudo, alguém vem e o diz que ele deve escolher uma profissão, se preparar para uma coisa chamada vestibular e freqüentar um local hostil e desconhecido chamado faculdade. Ora bolas, qualquer um sabe que um adolescente sente dificuldade para resolver até o que vai comer na lanchonete, quanto mais decidir o que quer fazer do resto da sua vida. Mesmo despreparado, o jovem finge estar pronto e logo em seguida é atirado cruelmente numa rotina de estudos forçados, para tentar adquirir em um ano, todo o conteúdo que não conseguiu em uma vida escolar inteira que esteve atirando bolinhas de papel nos colegas. Com os nervos em frangalhos ele passa no final do ano por uma série de exames, que dizem querer avaliar os seus conhecimentos gerais, mas que na verdade não passam de um teste de resistência psicológica. E ele sobrevive! A primeira fase é moleza, se não entrar na faculdade pode tentar a vida como jogador de futebol: nunca uma série de chutes foi tão certeiro! E cruza na frente e chega na segunda fase, a prova é dissertativa mas ele sabe que todo aquele discurso que usava para enrolar os pais, amigos, e professores ainda ia servir para alguma coisa! E finalmente, esta lá, o nome da criatura na lista dos aprovados. Entrou! Ele respira aliviado. Finalmente após todo o sacrifício e sofrimento, poderia ir para a tal faculdade decidir o seu futuro a base de chopp e azaração. Agora no primeiro dia de aula ele percebe que o pesadelo não acabou, falta passar pelo último estágio da barbárie: o trote. 

O TROTE 
In minidicionário Luft: “2. Zombaria, troça a que veteranos nas escolas sujeitam os calouros” 
O trote é uma espécie de ritual iniciação aplicado nos novatos ou “calouros” da faculdade. É aplicado pelos outros alunos do próprio curso, os conhecidos “veteranos”. Ocorre normalmente nas primeiras semanas de aula e sua principal função é a “integração” entre os alunos novos e os antigos, de um mesmo curso. 

O CALOURO 
Nas primeiras semanas de aula o calouro é uma presa fácil. Mesmo armado com a melhor roupa, o melhor cabelo, e a melhor personalidade, ele, que só descobriu onde fica a faculdade há três dias, se sente completamente desorientado. Não sabe onde fica o banheiro, em que sala vai estudar, o que vai estudar e por que ele está ali e não na praia! Um calouro sempre reconhece o outro pelo olhar perdido, ansioso, de quem quer a mãe. E por isso mesmo calouros sempre andam em bando, como as aves, que é para se orientarem. Embora todo calouro seja um ser humano, durante o trote ele é bicho, e portanto é tratado como tal. Normalmente os calouros dividem-se em: 
· Calouro Masoquista: Já no primeiro dia de aula ele sai a caça dos veteranos munido do kit-trote (composto de toalha, sabonete, roupa limpa, curativos, calmantes e gás paralisante). Sofreu tanto para passar no vestibular que acha que tem direito ao trote. Ele exige ser pintado, xingado, humilhado, e acha pouco! Fica sugerindo formas requintadas de torturas para os veteranos utilizarem com ele, e ajuda a zoar os outros calouros. É o primeiro da fila do vexame, e faz até poesia: “Me pinta, me borra, que no próximo período eu vou à forra!”. 
· Calouro Rebelde: Ele acha tudo uma palhaçada. O trote é palhaçada, pintar é palhaçada, faculdade é palhaçada, e se formar também é a maior palhaçada! E se encostarem em um fio de cabelo dele, ele chama a polícia ou então o Circo Garcia! 
· Calouro 171: Ele acha tudo tão legal, realmente adora o trote, mas... que pena! Não pode ser pintado porque tem alergia! Pôxa, também não pode participar das brincadeiras por causa da coluna. Pedágio não dá, ele tem hora marcada no médico. Chopp? Ele pode beber sim, o médico libera. Tudo bem para participar da choppada? Legal, então até lá! 
· Calouro Carente: Ele não gosta do trote, mas prefere participar a parecer chato. Ele precisa de aceitação, quer ser amado. Como não suporta ter que sustentar a própria opinião, fica com a opinião da maioria. 
· Calouro Gandhi: É pelo boicote pacífico. Vem no primeiro dia, e se não gostar do que vê só volta no outro período, quando o trote já acabou. 
· Calouro Confete: Para ele tudo é festa! Quer pintar, pinta. Quer xingar, xinga. Ele não está nem aí e quer é mais. O negócio é acabar logo com o trote e partir para a melhor parte: a choppada. 


O VETERANO 
Todo veterano já foi calouro um dia. Ser veterano é como uma espécie de promoção: se você sobreviver ao trote que lhe aplicarem, razoavelmente são, então tem condições de se livrar do 1º período, e passar o resto da sua estada na faculdade aterrorizando os calouros vindouros. Por isso, todo veterano conta secretamente os meses, esperando o dia do trote chegar. É quando finalmente ele vai poder ir à forra de toda a sacanagem que fizeram com ele. Muitos veteranos simplesmente ignoram o período de trote e seguem normalmente, outros não concordam, alguns vivem pelo trote, formando vários tipos: 
· Veterano Mestre: É quem está à frente do trote. Uma espécie qualquer de “líder”. O trote tem que parecer ter, mesmo que minimamente, alguma organização, afinal os calouros têm que pensar que aquela sessão vexatória ao qual são submetidos não é vã, tem um propósito sublime. É o Veterano Mestre quem recolhe todo o dinheiro dos pobres calouros e o dos calouros pobres, e é normalmente quem conduz as brincadeirinhas de péssimo gosto que são praticadas, assim como as gincanas. Costumeiramente este tipo de veterano foi um Calouro Confete típico, e o seu cujo único objetivo na vida continua sendo a choppada. 
· Veterano Feliz: É o que entra numa espécie de transe orgástico durante o trote. Zoar e pintar os calouros o traz um êxtase indescritível. O Veterano Feliz com certeza foi um Calouro Masoquista. Ele acha que tudo legal e tudo faz parte. Se deixar ele entra no trote de novo e se pinta junto com os outros. Como ele adorou ser xingado, acredita que os calouros também se deliciam quando são chamados de burros, idiotas, e coisas do gênero. 
· Veterano Zangado: É o tipo mais sádico. Ele foi um Calouro Carente, odiou o trote mas suportou resignado. Agora os novatos vão sentir a sua ira, vai fazer em dobro o que fizeram com ele. Se ele agüentou, os outros vão ter que agüentar também. Faz questão de ser antipático. Como não tem muitas oportunidades de se auto afirmar, aproveita o trote para mostrar o quanto é mau, e provar que sim, apesar de ninguém notar, ele tem uma personalidade que o colega dele emprestou e depois não quis de volta. 
· Veterano Soneca: Está agora bocejando e achando o trote a maior perda de tempo do mundo. Acha tudo uma palhaçada. Aliás, desde quando ele era um Calouro Rebelde que ele achava tudo uma palhaçada. Até tenta protestar, mas não lhe dão muita atenção desde quando tentou colocar sua opinião quando era calouro. E como aquilo tudo lhe dá muito sono... Opa! Dormiu! 
· Veterano Dunga: Como bom Calouro Gandhi, o Veterano Dunga está mudo, meditando a validade do trote. Ainda não foi possível ouvir a sua opinião, porque parece que ele não fala. 
· Veterano Dengoso: É o ex-Calouro 171. Ele quer participar, adorou ser calouro e adora ser veterano. Mas pôxa! Não vai poder ajudar a organizar o trote junto com os outros. É que ele está de viagem marcada para Alemanha, onde vai comprar chucrutes! Mas no dia da choppada ele já está de volta, que coincidência! 

CALOUROS X VETERANOS 
O encontro com os veteranos não é lá muito amistoso, principalmente se estes, fazem questão absoluta de serem o mais antipáticos e odiosos possível. Logo no primeiro contato, os veteranos explicam que tudo aquilo pelo que os calouros passarão é uma simples brincadeira. O calouro não é obrigado a participar, e se desejar, pode ir embora! É lógico que por conta disso ele não vai participar da choppada, não vai se relacionar com os outros veteranos e se tornará a pária do curso, eternamente mal visto e rejeitado. Mas ele só participar do trote se quiser! Afinal, para que ele precisa se relacionar com o restante do curso? Ele pode protestar, tem todo o direito, mas bem... vai ter que suportar o exílio. Mas, que isso gente! Ninguém ali obriga ninguém a nada! E se ele resolver participar tem que seguir as regras, sejam elas quais forem, entrou na chuva é para se molhar. 
Durante o trote existem várias brincadeiras, que variam de curso para curso. Algumas são inofensivas e até divertidas, e o restante além de idiota e infantil, é também violento. Tudo o que ocorre no trote tem como objetivo arrecadar dinheiro para a choppada, portanto, no geral, o trote pode ser dividido em duas fases: 
· Fase seca: É a fase inicial, onde o calouro se apresenta e é apresentado. Normalmente ganha um crachá de identificação com alguma frase ou figura de péssimo gosto, onde ele escreve o nome, o curso, e às vezes o apelido idiota que os veteranos lhe enfiam pela garganta abaixo. Esse crachá vale uma fortuna, se ele o perder, vai ter que vender a própria mãe para custear outro. Em seguida os calouros se submetem aos delírios de poder dos veteranos fazendo gracinhas para diverti-los. Os calouros dançam, rebolam, andam em fila “elefantinho”, cantam uns refrões pouco criativos e tudo mais que possa causar bastante constrangimento. Para arrecadar mais dinheiro, normalmente, acontece alguma gincana onde ele tem que trazer itens muito fáceis de serem encontrados como uma foto autografada do Reginaldo Rossi beijando os pés de Nossa Senhora do Rosário, e coisas do gênero, e pagando em dólar quando não trazem. 
· Fase molhada: Inaugurada com o batizado, onde os veteranos molham os calouros. Porém o que causa maior furor é, sem dúvida, a pintura. Isso acontece porque durante esta prática os veteranos têm a chance de retomar ao seu não tão distante tempo de infância, quando faziam pintura com os dedos no maternal. Em muitos casos além de tinta também são utilizados outros materiais como ovo, farinha de trigo, lama, e etc. Os veteranos aproveitam para exercitar seu dom artístico durante o trote e fazem pinturas surrealistas no corpo, roupa e cabelos dos calouros. Em seguida quando o indivíduo, completamente pintado, apenas lembra vagamente um ser humano, ele é atirado no pedágio. Ou seja, vai para algum espaço público onde vai ficar pedindo dinheiro aos passantes. Com a crise brasileira atual, a prática do pedágio está sendo muito difundida, inclusive com quem não pertence à nenhuma faculdade. Correm rumores que o Sindicato dos Pedintes está se articulando para tentar regulamentar a mendicância do trote enquanto profissão. 
Após arrancar todo o dinheiro possível dos pobres calouros, todo o curso se dirige para o santuário acadêmico: o bar, e lá realizam o tal esperado ritual de união e confraternização: a choppada. 


A CHOPPADA
O evento etílico mais esperado da graduação. É a etapa final de todo o ritual de iniciação chamado trote. Agora todos os veteranos vão para um bar junto com os calouros que sobreviveram e convertem todo o dinheiro conseguido em chopp. É neste momento que ocorre a verdadeira integração entre calouros e veteranos. Quando todos estão completamente bêbados, todo mundo integra todo mundo, e se desintegra no final em vômito na privada do bar. É na choppada que os calouros descobrem para que sofreram tanto com o vestibular: para freqüentar a Universidade do Chopp, e se formarem alcoólatras, e descobrem que só há três maneiras de se sair da faculdade: viciado, neurótico ou homossexual. 

DEPOIS DO FIM
Depois do trote, tudo volta ao normal. Os calouros voltam a ser universitários perdidos, os veteranos guardam seus instrumentos de torturas e capuzes, e, surpreendentemente, se descobre que eles são pessoas muito legais. O ritual da choppada prossegue a cada sexta-feira, e todos continuam se reintegrando e desintegrando pelo restante de sua vida acadêmica. 
É claro que há diversos tipos de trote, com as mais diversas variantes, e alguns completamente diferentes do demonstrado. Há trotes, por exemplo, que visam arrecadação de alimentos, para ajudar instituições. Outros que procuram o equilíbrio entre as brincadeiras e o respeito aos limites do próximo, sem retaliação. No entanto a imensa maioria dos cursos prefere utilizar o chicote e a cara feia, num processo que tende a se perpetuar e intensificar. 
Se os calouros gostam ou não, é um mistério. A verdade é que a maioria não reclama (pelo menos não para os veteranos ouvirem). Se o trote promove ou não a tal “integração”, também é um mistério, pois a grande maioria dos calouros espera ansiosa a oportunidade de ir à forra do que sofreram com os próximos calouros. Uma realidade é de que os trotes estão cada vez mais violentos, e pode-se concluir que, ou a necessidade de aceitação e passividade dos calouros é muito grande ou então que o número de masoquistas por metro quadrado na graduação está aumentando sensivelmente. Que o trote é importante, não há dúvidas. É algo inclusive desejado, uma espécie de comemoração. Só que por comemoração deve-se ler festividade incondicional sem nenhum tipo de opressão. 
Não se pode culpar totalmente os veteranos, pois eles estão fazendo apenas o que lhes é permitido fazer. Se um calouro se opuser, ele vai sofrer retaliação, se todos os calouros se opuserem, novos métodos terão que ser implantados. Mas também não se pode absolver estes aprendizes de Sade, pois é necessário apenas um neurônio em reflexão para perceber que muita coisa que acontece no trote é desnecessária e agressiva para com o próximo, e que muito do que ele faz, é motivado principalmente por desejo de vingança pelo que sofreu. De graduandos espera-se um mínimo de maturidade e criatividade para atividades divertidas e conscientes. Seria importante corresponder.


Texto retirado do site Usina de Letras e foto do site Carta Potiguar

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A menina do guarda-chuva vermelho [parte 2]



E como era esperado, ela voltou.
Voltou com mais mistério ainda no olhar.
As pessoas tinham medo dela, pois não sabiam nada sobre a tal garota estranha que vivia ali naquela cidade. Só sabiam que ela era fascinada por um simples guarda-chuva vermelho e que com sua presença na cidade houve alguns casos de assassinato. Mas ninguém tinha certeza que ela era à principal vítima desses acontecimentos.
A paz que os moradores da pequena cidade tiveram, foi embora num piscar de olhos...
E sua sede de matar as pessoas continuava.
Era quase um vício. O porquê disso ninguém sabe.
Matou duas pessoas. Uma menina afogada no rio que havia perto da cidade e um menino pendurado numa árvore do parque. Ambos com a marca de guarda-chuva vermelho na nuca.
Depois de várias tentativas para descobrir o motivo de tantas mortes, eis que surge uma pessoa que mudará o destino dessa história...


Continua...