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... não sei se o que escrevo aqui é certo ou errado, se é bom ou ruim, se as pessoas gostam ou não!

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domingo, 15 de setembro de 2013

Como me tornei professora?

            Ela sempre foi aquele tipo de garota que não se preocupava com nada, até que se deu conta de que estava no terceiro ano do ensino médio e não tinha ideia de que curso universitário gostaria de fazer...
            Foram inúmeros testes vocacionais pela internet e nada. Professores buzinando em sua cabeça para fazer exames para conseguir bolsas e nenhuma luz para iluminar que curso escolher.
            Laís sempre teve um apresso muito grande por crianças e uma paciência gigantesca. Teve uma infância muito bem vivida e adorava ver o sorriso das crianças que ela esbarrava nos lugares que frequentava.
            As brincadeiras com os vizinhos variavam, mas sempre prevalecia a brincadeira de ser professora. Houve brigas e brigas pelo cargo de professora, para dar aulas para ninguém. Um bando de alunos que não existiam com os mais diversos comportamentos. A amiga que brincava junto com ela também era uma professora, só que hoje é de verdade.
            Na família quase não se tinha a presença das crianças, além de seu irmão, até que começaram a aparecer algumas. Aquele sentimento bom que tinha pelas crianças crescia mais e mais. Ajudava as crianças, brincava e isso a divertia. Até que certo dia Laís parou e pensou: “Caramba, será que é isso mesmo? Será que vou ser professora?”, e então decidiu observar mais essa questão em relação às crianças.
            Em todo lugar que ela chegava atraía a criançada. Parecia uma espécie de ímã. As crianças sempre gostavam dela e nas festinhas infantis ela era destaque, não mais que o aniversariante, mas quase. E começaram então a chamá-la de “tia”. A primeira vez foi um choque, falou várias coisas para a criança que havia falado isso, como “não sou sua tia”, “não sou irmã da sua mãe ou do seu pai”, “não sou velha para me chamar assim”. Seria medo de ter descoberto o que poderia ser sua profissão?
            Havia muito preconceito por parte dela em relação da profissão professor. Achava que acabaria chata, feia, estressada, solteira e sem graça como alguns dos professores que passaram em sua vida escolar. Ela pensava em tudo: “Como seria minha postura diante de uma sala de aula? Como seriam os alunos? E minha paciência, resistiria para a vida toda? As crianças iriam me ouvir, ou só olhariam meu lado carinhoso? Eu teria pulso firme em algumas situações? Só vou trabalhar de segunda a sexta, é isso mesmo? Vou ganhar um dinheirinho bom para comprar minhas coisas? Será que eu seria feliz exercendo essa profissão?...”.
            Chegou o dia de fazer a inscrição para o tão temido vestibular. A amiga foi uma espécie de influência, pois contava como era a faculdade, os amigos que por lá fizera, as matérias, e tudo parecia muito legal para ela. Escolheu PEDAGOGIA! Havia opiniões diversas dentro da família, desde o descaso até a imagem de super heroína que possivelmente se tornaria. Mas na verdade os professores acabam sendo verdadeiros super heróis.
            Preocupações a parte em relação ao curso, e lá vamos nós! Conseguiu passar e ganhar o passaporte para o novo mundo. Cada dia uma surpresa, novas amizades, um descobrimento, uma nova realidade. Em algumas vezes a vontade de ser professora crescia, às vezes diminuía a ponto de desaparecer. Uma oscilação constante! Uma indecisão reprimida.
            O primeiro emprego na área. Uma fase de experiência contínua e o contato vivo com a realidade que iria enfrentar a vida toda. Altos e baixos vieram, como todas as profissões, mas parecia que não era exatamente aquilo que queria. Adorava seus alunos, mas às vezes perdia a paciência que há pouco tempo transbordava, e naqueles momentos parecia não mais existir.
            Surgiu a possibilidade de trocar de emprego. E lá vamos nós para mais uma grande aventura. Dessa vez Laís estaria pisando em um campo jamais visto. Sim, o medo a acompanhava, mas parecia ser divertido. Ela era aberta para o novo e então topou viver a experiência de cuidar e educar crianças bem pequenas das que estava acostumada a cuidar e educar.
            Uma sala de berçário. Não era o que ela esperava. Logo ela que vivia reproduzindo as seguintes falas: “nunca vou cuidar de bebês”, “fora de cogitação eu trabalhar para limpar bunda de menino e trocar fraldas”, “não quero isso para mim”. E foi o que o destino lhe presenteou. Ela era aberta para o novo, mas não para esse novo. E isso martelava sua mente todos os dias.
            No começo certa angústia, certo desconforto perante aquela situação que ela nunca imaginava que iria passar.
            Uma novidade. Uma nova experiência. Uma nova paixão. Aqueles bebês haviam roubado seu coração por inteiro. Ela se via feliz ali naquele local. Laís agora pensava diferente. Gostava de tudo que estava acontecendo.
            A mudança foi tão radical que até cogitou a possibilidade de continuar seus estudos na área. Por que não uma pós-graduação em educação infantil? O TCC já estava imerso nesse seu novo mundo. Suas vontades também estavam. Ela já pensava num futuro concurso público para trabalhar em algum centro de educação infantil. Laís via sua vida totalmente envolvida na educação infantil. Não conseguia estabelecer outra relação que não fosse com os bebês.
            A faculdade está na reta final. Seus bebês continuam arrancando sorrisos dela. Tornou-se quase que filhos. Filhos que ela observa e vê nitidamente seu desenvolvimento, seu crescimento, seu amadurecimento. Olha e percebe sua contribuição como professora na vida de cada um. Isso mexe com ela, a deixa feliz, a completa.
            Bom, a pergunta “Como me tornei professora?” é respondida todas às vezes que Laís se sente importante perante suas atitudes como uma professora, ou todas às vezes que um de seus alunos chega nela em um dia que não começou nada bem, lhe dá um abraço, um sorriso e a chama de “titia”. Tornar professora pra ela foi quebrar todos os paradigmas que existiam dentro de si, acabar com todo o preconceito e aceitar ser uma professora.
            A vida tem lá suas reviravoltas, mas de uma coisa Laís tem consciência. De que mesmo se um dia ela não possa mais exercer sua profissão, dentro dela sempre existirá aquela professora que ela e a sociedade puderam descobrir e conhecer.

            E hoje ela já se sente uma heroína, pois sabe que deixou alguns rastros seus na vida de algumas crianças...


*Uma autobiografia para um trabalho de faculdade...